segunda-feira, 25 de julho de 2016

Biscoitos de limão


400 gramas de farinha de trigo
200 gramas de manteiga
100 gramas de açúcar
1 ovo
raspa de 2 limões

Mistura-se tudo, amassando-se muito bem, formam-se os biscoitos, em laços entrelaçados que vão depois ao forno pré-aquecido, num tabuleiro polvilhado com mais farinha, por cerca de vinte minutos, até ficarem dourados.

Podem-se comer ainda quentes, acabados de fazer, num final de tarde de Outono, com a luz a desaparecer enquanto o sol se põe, alaranjando os biscoitos. Ou na manhã seguinte, com chá ou café, antes de se sair porta-fora, e podem vir connosco cuidadosamente embrulhados a aguardarem um intervalo na hora do almoço, ou ficarem à nossa espera em casa, acentuando a noite em limão.

Quantos pode uma mulher com um metro e cinquenta, acima do peso, comer por dia? Um tabuleiro com vinte ou trinta. Depois dois tabuleiros e arranjar de seguida tabuleiros maiores.
Catarina, loura, branca e baixinha. Olhos grande de mel e uma paixão pelos doces e bolos. Nunca teve um namorado. Aos vinte anos, confidente das amigas, pareciam-lhe todos um pouco tolos. As amigas a quererem viver grandes romances, a passarem sucessivamente por fases repetidas. Animação. Ele é mesmo giro não é? A rirem das piadas dele sem graça. Paixão. Não existe mais ninguém no mundo. Deixava de as ver, chegavam atrasadas aos espaçados encontros. Decepção. Afinal, ele é um parvalhão. Nem sabes o que me fez. Arranjou outra. Também já não o queria para nada. Não tinha conversa. Um egoísta que só queria ir ao jogo com os amigos. Arrependimento. Será que ele me vai ligar? Será que eu devia ligar-lhe? Depressão. Só quero ficar em casa a dormir. Recuperação. Catarina, vamos sair? 
Até aparecer o próximo.
Com ela, não. Encontrava-se com as amigas, ria-se com elas das aventuras que lhe contavam, ouvia-as e tentava consolá-las e desistira de lhes falar no ciclo que se repetia. 
Ela preferia os biscoitos de limão. Ou os bolos de chocolate, as bolas de berlim e os pastéis de nata.
Um belo dia apareceu-lhe o Pedro. Padeiro, com curso de pasteleiro. Falaram de receitas. Marcaram encontros. Ele trazia-lhe os bolos que criava para ela experimentar. Começou a aguardar ansiosamente pelos seus encontros. Pensou se estaria apaixonada. Negou a si mesma que não seria a mesma coisa se ele viesse sem doces. Juntaram receitas de bolos e casaram. Ele gostava de a ver comer com tanto apetite. Em alguns anos, dobrou o peso. Havia mais dela para ele amar. Não conseguiu engravidar. O médico sugeriu uma pequena dieta, mas ela nem quis ouvir falar disso. Foi logo para casa, e encontrou consolo num pudim francês.
Até que um dia a Sílvia a chamou para uma conversa. Tinha que lhe abrir os olhos. Não tinha ainda desconfiado das horas extra que ultimamente o Pedro arranjava? Ele tinha outra. Uma magrela que nem devia gostar de bolos. A Elsa deslavada que também andara atrás de um namorado da Sílvia, mas ela tinha-o posto logo com dono, e calçara-lhe depois uns patins.
Ela não disse nada. A Sílvia e outras amigas condoeram-se dela, comentaram como se mostrava corajosa. Debateram entre elas o que deveria fazer. Falar ou não com o Pedro. Terminar o casamento ou ignorar e esperar que lhe passasse. Podia ser a crise dos quarenta.
Ela continuou sem nada dizer e para si, pensou, não sinto nada. Depois imaginou como seria se o Pedro se fosse embora. Ocorreu-lhe que assim não iria mais cozinhar para ela, acabariam os bolos e pudins.
Tinha de fazer alguma coisa!
Durante alguns dias quase se esqueceu de comer, até que encontrou a solução. Ligou à Elsa. Disse-lhe que sabia o que se passava, marcou uma conversa no parque, ao final da tarde e pediu-lhe segredo. Dia de Inverno, às dezoito horas, parecia já noite e por ali não se via viva alma. Chegou primeiro e quando viu a Elsa, confirmou com ela que não falara a ninguém do encontro. Depois foi muito rápida. A Elsa não devia pesar nem quarenta quilos. Deitou-se para cima dela e abafou-a com o seu peso. Quando a sentiu inerte, arrastou-a para debaixo de uma velha árvore. Colocou-a à frente desta como se tivesse tropeçado nas raízes retorcidas e caído. Regressou a casa.
No dia seguinte, o Pedro chegou mais cedo e fez biscoitos.


domingo, 24 de julho de 2016

10/10 - Ensaio

Sobre o conceito de fim

Pelo fim, poderemos pensar na morte.
A minha morte. A morte de cada um de nós.
Em termos abstractos e se não for crente, pensarei nela como o fim. Independentemente do que possamos preferir ou de sermos jovens ou velhos, saudáveis ou doentes, fracos ou fortes. É sem dúvida mais apelativa a ideia da alma imortal, mesmo com a expiação dos pecados num inferno ou purgatório, ou as reencarnações castigadoras e educadoras, de insecto a ente superior.
Se considerarmos que ninguém parece ter até à data regressado, pelo menos, depois de bem morto e enterrado, para lá de uma reanimação, num verdadeiro ressuscitar cientificamente comprovado, e porque as injustiças que nos cercam, reforçam a conclusão da ausência de sentido, a morte-fim parece espreitar-nos a cada instante.
Será também a minha morte o fim do mundo, porque não mais o percepcionarei e não existirei sequer para poder pensar se o mundo continua.
Mas posso antes pensar no fim como objectivo ou propósito de vida. Todavia, também aqui poderá ser apenas quando termina a vida que se avalia o que se conseguiu, e ainda, se foi certo ou errado o que definimos, as opções que tomámos, o que preterimos e o que alcançámos.
E o final de uma etapa, de uma paixão, de uma relação, será apenas definitivo quando afastada qualquer possibilidade de retorno, quando confrontados com o fim da vida.

A terminar este texto, quero optar por negar o fim, permanecendo ao invés e sempre a mudança, ver cada um de nós como partículas que se ligam e se separam, se transformam e continuam. 

9/10 - Amor

Correu bem mal a sua ideia de passarem o fim-de-semana fora, no meio de um monte, numa dita casa recuperada.
Nem queria sequer imaginar como seria antes. Por fora parecia velha. Por dentro, mais velha parecia.
Foi com dificuldade que abriram a porta. Parecia que a chave rodava, rodava na fechadura e nada, até que João com um pequeno empurrão, lá conseguiu que cedesse. 
Rangendo contrariada, abriu para uma pequena cozinha. Não tinha fogão, mas uma lareira. O fumo de anos manchara as paredes e a abertura no tecto por onde escapava.
No quarto empoeirado, os lençóis amarelos não pareciam limpos e na casa de banho, saiu a custo das torneiras um fio de água castanho.
Era tão tarde que ninguém da agência lhes atendeu o telefone. Decidiram reclamar no dia seguinte e pernoitar ali. Nem se despiram e cobriram-se com os seus casacos.
Como de costume, João adormeceu logo a ressonar.
O som tranquilizou-a até que começou a ouvir outros ruídos.
O do vento lá fora, a soprar por estre as frinchas das janelas e portas. Seria também o vento que fazia a madeira estalar como se leves passos percorressem o corredor que levava ao quarto. Ouviu moscas, acreditou ouvir baratas. Não queria acordar o marido, mas pareceu-lhe ouvir uma voz rouca e zangada: “ide‑vos” dizia, entre os rrrrrr do João que dormia.
Abanou-o devagarinho, depois com mais força, até conseguir que meio despertasse: “João, não estamos sozinhos”, sussurrou-lhe, esperando que ele fosse investigar.
Todavia, como por magia, parou o “ide-vos” que procurou descreveu-lhe.
Ele terá tentado escutar, verdade seja dita, mas como nada se ouvia, virou-se para o lado e caiu de novo nas brasas, com os rrrr bem audíveis, mas primeiro disse-lhe algo que a arrepiou, fazendo-a antes optar por dormir.

Ele disse-lhe: “Vai lá tu amor.”

8/10 - Diálogo

Rui queria era encontrar um lugar que lhe permitisse espreitar o jogo sem que reparassem nele.
Não tinha sido boa ideia aceitar o convite do Paulo para aquela festa. Está bem que já são amigos há mais de vinte de anos e não se viam para aí desde há cinco, e foi apanhado de surpresa. O Paulo ligou-lhe, disse-lhe que tinha regressado a Portugal nas férias, que ia dar uma festa na quarta-feira e ele não podia faltar. Deu por si a responder que lá estaria e só depois é que se lembrou do jogo.
Caramba, mas parece que ali ninguém gostava da bola. A televisão velha com o som baixo espreitava-o de um canto da sala. O jantar era em buffet, muito moderno. Seguravam os pratos, enquanto tentavam cortar a febra e trocavam bitaites.
Ainda mais ele era míope e tinha de se aproximar mais do canto da sala para conseguir distinguir quem jogava e ver o esférico a rolar pelo campo.
Aproveitou um momento em que todos se entusiasmavam a discutir o Brexit e deu uns passinhos em direcção ao almejado canto, mas eis que se atravessa à sua frente uma loura decotada:
- Rui? Há tanto tempo? Lembras-te de mim, certo?
Olhou-a incrédula, ainda mais era alta, escondia completamente o televisor.
- Não estou bem a ver. Balbuciou.
- Clara! Pá, tive uma paixão por ti. Nem suspeitavas, não é?
Continuava sem se lembrar.
- Claro, claro, a Clara. Respondeu.
- Agora que te vi, não te largo mais. Quem diria que também mantiveste a amizade com o Paulo. Tantos anos. Tens de me contar tudo o que tens feito!
Quase em desespero foi então salvo pelo Paulo que chamou a Clara.
Podia contar sempre com o seu amigo.

E conseguiu ver o final do jogo.

7/10 Era uma porta enferrujada

Era uma porta enferrujada. E ela entrou.
A velha casa esperava-a.
Lençóis cinzentos cobriam os poucos móveis que restavam.
Pelas janelas emperradas a luz que entrava revelava partículas de pó suspensas no ar, coloridas pela luminescência que reflectiam, e recortava estranhas sombras à frente dos seus passos.
Ali tinha sido feliz.
Fizera seu aquele espaço, a antiga casa do caseiro, com a autorização dos tios, donos da propriedade. Dissera-lhes que ali poderia estudar para os exames sem que as brincadeiras dos primos, a distraíssem.
No final da manhã com a merenda e os livros ia para lá. Talvez quisesse fazê-lo para tornar o pretexto verdadeiro, mas não conseguia estudar. Só esperava.
Esperava por ele, o seu primeiro – então acreditava único – amor. Quando ele chegava, o tempo parava. Perdia-se nos seus abraços e beijos, cada vez mais íntimos e inebriantes.
A febre que a percorria, impediu-a de ver que cresciam as suspeitas pelas suas estranhas ausências.
 Uma tarde foram surpreendidos. Os dois enrodilhados na cama e despidos, quando o tio e o avô entraram por ali dentro. A vergonha deixou-a muda e ele não a ter defendido, decepcionou-a.
Voltou corrida para a casa dos pais. Não houve mais férias na aldeia com os tios. E cresceu.
Atrás de si toda uma vida. Um casamento, dois filhos, um divórcio. Os avós e tios já tinham morrido. Foi preciso tratar das partilhas e regressou à aldeia. Decidiu ligar‑lhe. Tinha já compreendido que na altura também ele tão jovem.
Quando ele atendeu, não lhe reconheceu a voz. Disse-lhe quem era e que queria vê-lo. Ele ficou algum tempo em silêncio. Ela até pensou que a chamada tinha caído. Depois combinou o encontro ali.
Tantos anos depois, de novo esperava por ele. Sem saber se viria.
Até que ouviu passos e eram os passos dele.

6/10 - E se fosse proibido abraçar

E se fosse proibido abraçar?

Primeiro, proibiram os beijos
Depois também os abraços
Resolvida a procriação
Em laboratório científico
Esperava-se que os cidadãos
Trabalhassem somente
Quimicamente castrados e felizes
Na construção da sociedade perfeita
Fechados e cinzentos
Em cada um cresceu a lembrança
Do tempo passado
Governante e governados
Não esqueceram
O calor de um simples abraço
Num clamor surdo e colectivo
Abraçaram a revolta

E ruiu a utopia

5/10 - Discurso

Discurso de uma criança de cinco anos para o mundo

Este é o meu discurso para o mundo escrito pela minha mãe porque eu ainda não sei escrever.
Chamo-me João e tenho cinco anos.
Quando eu for grande, vou ser astronauta e mecânico e depois vou ser Presidente dos Estados Unidos e vou salvar o mundo.
A minha mãe pergunta como é que eu vou salvar o mundo.
Vou fazer umas leis que todos vão cumprir.
Todos vão deitar o lixo nos baldes certos, vamos limpar as praias e ninguém vai para a guerra a não ser guerras de tinta.
Todos vamos ter comida e vamos comer os brócolos, mãe não escrevas isso, estava a brincar, pronto, faço uma lei em que só come brócolos quem quiser.
Os pais vão ter mais tempo para vir ver os filhos e vão passear com eles e não com os filhos da nova mulher, está bem, mãe, vão passear todos juntos, mas o pai vai falar mais comigo.
Os avós que morreram poderão vir visitar-nos e não vais ficar mais triste quando te lembras deles, mãe, também poderás ir visitá-los, mas depois voltas.

E todos os que caírem ou estiverem tristes terão direito a um abraço, como o que me dás agora, mãe.

4/10 - A noiva vestia de preto

A noiva vestia de preto.
Apenas esse podia ser o título para o seu livro. Até que descobriu que já tinha sido usado, inclusive num filme e apesar da história do filme ser bem diferente do que tinha pensado escrever, o ocorrido desmoralizou-o e desistiu de escrever o livro.
A sua vida estava recheada de situações assim.
As grandes ideias que tinha, revelavam-se sempre não originais.
Até o seu nome: Antenor.
A avó criou-o até aos seis anos e era assim que o tratava. Acreditou ser Antenor até ir para a escola com essa idade. Aos seis anos descobriu que estava registado como António porque no registo recusaram o nome escolhido. A avó continuou a chamá-lo Antenor. Era António para todos os outros.
Aos vinte anos apaixonou-se loucamente por uma mulher, a Yara Lis, que não parecia corresponder aos seus sentimentos.
A Yara Lis aceitou, depois de muitos convites, ir jantar com ele.
A dada altura, estavam já na sobremesa, pudim de laranja, ele, e salada de frutas, ela, confessou-lhe que não era esse o seu nome, chamava-se simplesmente Ana, nada original, afinal.
Acabaram por casar e ele continuou a chamar-lhe Yara Lis, excepto quando discutiam.
Acordaram em chamar às filhas, Açucena e Amarílis, nomes aceites no registo.
As filhas hoje adultas e o seu maior orgulho, a começar pelos seus nomes, tão raros e belos quanto elas, amigaram-se e foram morar para outras casas, aguardando que um destes dias lhe arranjem um neto.
Alimentou o sonho de ser original, até começar a perceber que já o era, para a Yara Lis, para as filhas e amigos, inconfundível e especial, mesmo sem ter escrito um livro e quer lhe chamassem Antenor ou António, e com essa ideia a acalentá-lo, apagou a luz e foi deitar-se ao lado da Yara Lis.


3/10 - Um autêntico sonho de amor

Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. 

Teve todos os defeitos do mundo e ainda inventou outros.
Transformou o medo que escondia em raiva.
Desprezava os mais fracos, orgulhava-se de ser temido.
Enorme rancor o movia contra os que se apresentavam como mais fortes.
Não descansava enquanto não os amachucava
Envaideciam-no essas vitórias vazias.
Com as mulheres, entusiasmava-se e decepcionava-se rapidamente.
Sabia que o que realmente o apaixonava era a conquista.
Gostava de mulheres que o desafiavam, que sabiam esconder-se e desvendar-se, capazes de representarem o jogo do flirt como se sentissem o que lhes dizia e o que lhe respondiam.
À primeira suspeita que poderiam estar a convencer-se que tinha um futuro juntos, deixava-as. Fugia tão depressa que nem chegava a ver se de verdade as magoava, se apenas lhe deixava o orgulho ferido pelos seus projectos frustrados.
Um dia pensou em casar-se e escolheu uma mulher que acreditava assemelhar‑se‑lhe, por se guiar pela razão, por não fingir emoções que não sentia.
Só descobriu mais tarde o que ela escondia.
Não lhe perdoou ter-lhe ocultado que o queria mudar. Ela odiava-o por não o ter conseguido.
Quando pensava divorciar-se, ela revelou-lhe estar grávida.
Sentiu-se preso. Nem sabia se o filho era seu. Lembrava-se vagamente de terem dormido juntos numa noite em que tinham discutido e se tinham embriagado e voltado a discutir e a beber até adormecerem.
Nasceu uma menina e pouco depois ela deixou-os.
No embaraço daquele abandono, começou a ocupar-se do bebé.
Não se parecia com nenhum dos dois. Era linda. Cada dia mais. Esperta e engraçada.
Cresceu-lhe o orgulho pela menina e esqueceu ter duvidado da paternidade.

Pela primeira vez começou a amar alguém mais do que a si mesmo, a sua filha.

2/10 - Casa

A casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.

Quando eramos crianças em viagem,
De visita aos avós dos dois lados,
para Lisboa, a capital,
ou Argozelo, a aldeia,
a nossa mãe levava com ela a casa.
Concertava dentro das horas, as refeições,
Arranjava a cama onde dormíamos
Bebíamos o mesmo leite em canecas ou chávenas distintas
Adormecíamos rodeadas por espaços e sons diferentes
Sentíamos o estremecer das paredes, pelo que se passava lá fora,
Olhando tectos altos pintados,
Ou acordávamos com o cantar do galo,
No quarto com chão de tábuas compridas,
Podíamos aventurar-nos em descobertas,
Descer entre passeios para grutas escuras e apanhar o comboio-metro,
Subir com a burrinha, por ruas desarrumadas até campos com cheiro a esteva,
Tudo porque a sabíamos por perto, a olhar por nós

Muitos anos depois, ouvi o meu primeiro amor
Dizer, “está tudo bem”, apenas porque estava ali
Soube que me tornara a sua casa, e ele a minha

Quando se foi, fiquei sem chão e sem abrigo
O mundo surgiu imenso, feio e vazio
Até conseguir ver de novo outras casas

E ser também casa de mim própria