domingo, 24 de julho de 2016

10/10 - Ensaio

Sobre o conceito de fim

Pelo fim, poderemos pensar na morte.
A minha morte. A morte de cada um de nós.
Em termos abstractos e se não for crente, pensarei nela como o fim. Independentemente do que possamos preferir ou de sermos jovens ou velhos, saudáveis ou doentes, fracos ou fortes. É sem dúvida mais apelativa a ideia da alma imortal, mesmo com a expiação dos pecados num inferno ou purgatório, ou as reencarnações castigadoras e educadoras, de insecto a ente superior.
Se considerarmos que ninguém parece ter até à data regressado, pelo menos, depois de bem morto e enterrado, para lá de uma reanimação, num verdadeiro ressuscitar cientificamente comprovado, e porque as injustiças que nos cercam, reforçam a conclusão da ausência de sentido, a morte-fim parece espreitar-nos a cada instante.
Será também a minha morte o fim do mundo, porque não mais o percepcionarei e não existirei sequer para poder pensar se o mundo continua.
Mas posso antes pensar no fim como objectivo ou propósito de vida. Todavia, também aqui poderá ser apenas quando termina a vida que se avalia o que se conseguiu, e ainda, se foi certo ou errado o que definimos, as opções que tomámos, o que preterimos e o que alcançámos.
E o final de uma etapa, de uma paixão, de uma relação, será apenas definitivo quando afastada qualquer possibilidade de retorno, quando confrontados com o fim da vida.

A terminar este texto, quero optar por negar o fim, permanecendo ao invés e sempre a mudança, ver cada um de nós como partículas que se ligam e se separam, se transformam e continuam. 

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