Sabes que não quero e nunca irei esquecer-me de ti.
Quero guardar tudo, o bom e o mau, porque mesmo uma
má memória, se é de algo que vivemos juntos, é importante e preciosa, e agora é
só o que tenho de ti.
Estou a escrever-te porque não posso falar contigo e
quero crer que de alguma forma poderias ler, como se estivesses atrás de mim a
espreitar por cima do meu ombro.
Lembro-me do teu rosto, dos teus abraços, de algumas
das palavras e expressões que usavas e eram só tuas. Quando penso nelas, quase
consigo ouvir a tua voz.
Quando morreste, o mundo mudou de um momento para o
outro. Pareceu-me que atravessava uma linha que me separava para sempre de
todos aqueles que não sabem.
Não sabem que há dores que não passam, nos envolvem
e se tornam parte de nós.
Não sabem que apenas com o tempo as conseguimos
fechar em alguma gaveta para que fiquem em segundo plano, e possamos continuar
a agir como se estivéssemos vivos.
Mas a dor está lá, permanece, e a qualquer momento,
pode-se abrir a gaveta.
Então também senti medo porque o meu mundo se
desmoronava. Nada fazia sentido porque não devias nem podias ter morrido.
Depois senti raiva. Sabia o que tinha sucedido, mas
não conseguia acreditar.
Aceitar foi apenas o acreditar.
Pouco a pouco, quando fui forçada a trocar os nossos
antigos hábitos por outros em que tu não estás, deixei de estranhar não te ver,
não poder telefonar-te, não estar contigo.
Mas sabes, enquanto eu for eu, não me esquecerei de
ti.
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