O pai, inglês
perfilhou-o, mas não chegou a conhecê-lo. A mãe abalou para Inglaterra arrás
dele. Quem o criou foi a avó. Sem deixar faltar nada ao neto, orgulhava‑se de
serem pobres mas honestos.
Quando tinha sete anos
aconteceu algo que o marcou. Invejou o estojo novo de um colega e tentou
roubá-lo. Fê-lo tão mal que o viram.
Chamaram a avó à
escola. Só pensava que do seu orgulho passara à sua vergonha. Da janela da sala
do director viu-a a chegar. Com os seus passos curtos, meio curvada, mas a
tentar olhar todos de frente. Quando ela assomou à porta, desabou a chorar:
“não torno mais, vó, não torno mais”.
E avó não gritou, nem
se zangou. Chorou com ele.
Decidiu que seria
honesto sempre.
Sempre? Talvez não
completamente. Com dezoito anos, apenas o 9º ano e não querendo emigrar para
não deixar a avó, quando abriu a vaga para recepcionista no Hotel, mentiu.
Disse que falava inglês. Com pai inglês, acreditaram.
Na primeira semana
chegou ao hotel o grupo de rock Steel-Stone e estariam a recuperar do voo e diferença
horária.
Esperava uma noite
tranquila, mas pelas três da manhã tocou o telefone e era o líder, Roger, a
gritar algo que lhe soou como: ” I’ want a portuguese stripper singer”.
Apelou ao que aprendera
de inglês, lembrando-se da prima Gracinha que cantava num rancho. Não se
recordava era do queria dizer “stripper”.
Ligou-lhe e ela acedeu
a vir com dois elementos do rancho.
Quando chegaram, a
prima um pouco mais gorda, todos vestidos com trajes regionais, levou‑os à
suíte principal.
Estava muito barulho e
não o deixaram entrar.
Nem meia hora depois,
passavam por ele a correr a prima e os elementos do grupo, afogueados e meios
despidos.
Ainda hoje a prima não
lhe fala.
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