A casa é sempre o centro e o
sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.
Quando
eramos crianças em viagem,
De
visita aos avós dos dois lados,
para
Lisboa, a capital,
ou
Argozelo, a aldeia,
a
nossa mãe levava com ela a casa.
Concertava
dentro das horas, as refeições,
Arranjava
a cama onde dormíamos
Bebíamos
o mesmo leite em canecas ou chávenas distintas
Adormecíamos
rodeadas por espaços e sons diferentes
Sentíamos
o estremecer das paredes, pelo que se passava lá fora,
Olhando
tectos altos pintados,
Ou
acordávamos com o cantar do galo,
No
quarto com chão de tábuas compridas,
Podíamos
aventurar-nos em descobertas,
Descer
entre passeios para grutas escuras e apanhar o comboio-metro,
Subir
com a burrinha, por ruas desarrumadas até campos com cheiro a esteva,
Tudo
porque a sabíamos por perto, a olhar por nós
Muitos
anos depois, ouvi o meu primeiro amor
Dizer,
“está tudo bem”, apenas porque estava ali
Soube
que me tornara a sua casa, e ele a minha
Quando
se foi, fiquei sem chão e sem abrigo
O
mundo surgiu imenso, feio e vazio
Até
conseguir ver de novo outras casas
E
ser também casa de mim própria
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