“…A sala de espera é pequena não cabe quase
ninguém, uma dezena de cadeiras distribuídas como quem espera o barco que vai
de saída. Um ar condicionado que sopra ruidosas lufadas num ar já viciado nos
odores que por aqui vão passando. Uma máquina avariada, desmaiada na parede,
onde se lê “Procure aqui o seu emprego”.
Maria sentou-se na última cadeira vaga, a
grande barriga pesava-lhe e segurava o mais novo pela mão. A Ana, a mais velha
foi dar o nome da mãe. Ouvia a sua voz fininha com o “se faz favor” que lhe ensinara,
“para a Maria Silva, ainda demora muito?” Sentiu orgulho na sua menina. Quando
ela voltou, beijou-a na bochecha direita, deixando-a corada enquanto repetia o
que lhe tinha dito a senhora, “é já a seguir”.
O já a seguir demorou muito, mais de meia hora,
em que teve de entreter o Pedro. Deu-lhe uma bolacha, deixou-o sentar-se no
chão e conseguiu que ele não fizesse uma birra. Os que antes estavam na sala
foram sendo chamados e prontamente substituídos pelos que entravam de novo. Não
sabia se seria bom ou mau que se despachassem tão depressa. Quando a chamaram,
deixou a Ana a tomar conta do irmão.
Entrou para a pequena sala, quatro por quatro
metros, atafulhada com uma estante pesada e uma grande secretária que a
tornavam ainda mais pequena. Sentou-se na cadeira enquanto olhava para o homem
gorducho à sua frente. Era capaz de apostar que a barriga dele era maior do que
a sua. Ele tinha uma capa aberta sobre a mesa, talvez o seu processo, mas
estava absorto a olhar para o computador. Maria tossiu para anunciar a sua
presença. Sem a olhar ele fez-lhe um gesto para que aguardasse. Mais alguns
minutos passaram até que se dignou desviar o olhar para ela: “Então Maria
Silva, não é?”. Maria assentiu e esperou.
“Para quando é?” Ele perguntou, levantando o
queixo em direcção à sua barriga.
“Este mês”. Respondeu-lhe.
“Está com sorte” ele continuou, “para daqui a
dois meses é precisa uma ama e a cliente não se importa que leve os seus
filhos. Está interessada?”.
Claro que estava. Agarrou no papel que ele lhe
estendia, e saiu, ainda meio atarantada, multiplicando-se nos “obrigada”.
Quem diria que naquele dia ia ter sorte.
Saiu da Agência, com a oportunidade de emprego
prometida na parede, e com os filhos, um de cada lado.
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