02 - Um grande Amor
Filme:
Um grande amor
Última
cena: Despedida
Cenário:
O Hospital central, à noite. Lá fora chove, afastando os últimos transeuntes, que
em passos apressados se abrigam sob os edifícios ou correm para os carros,
sublinhando a ideia de vazio. Numa sala, perto dos Cuidados Intensivos, Helena
e o cunhado encontram-se com dois médicos. Helena sentada a um canto da mesa
parece meio alheada da conversa.
Num
flashback ou cena retrospectiva, assistimos a uma sua memória de um momento que
viveu com o marido. Os dois mais jovens, ainda só namorados, num dia de verão.
Ela deitada na relva, ele sentado, entusiasmava-se a expor-lhe as ideias que
tinha para um trabalho, e ela resolveu fingir que tinha adormecido. David
representou então o príncipe encantado para a acordar com um beijo e acabaram a
rir os dois.
Helena
desperta para o presente ao perceber que os médicos falam sobre o traumatismo
devido ao acidente, coma irreversível e doação de órgãos.
Levanta-se,
e diz: “quero uns momentos a sós com ele para me despedir”.
Um
dos médicos leva-a até ao quarto e sai, encostando a porta. Ali a luz é mais
ténue e centra-se no leito.
Deitado
com a cabeça ligada, o ritmo cardíaco monitorizado e a soro, ele parece dormir.
Helena
senta-se ao seu lado. As lágrimas descem pelo seu rosto vagarosamente e é com
uma voz suave que se dirige a ele: “foste o melhor dos amigos, o melhor
namorado e marido que poderia ter, ofereces-te sempre tudo e por isso nunca
antes te pedi nada, mas meu amor não te posso deixar ir, não quero viver num
mundo em que não estejas, não me deixes”. Helena inclina-se, fecha os olhos e
beija-o nos lábios demoradamente. Quando acaba o beijo, afasta-se só alguns
centímetros, abre os olhos e olha-o com esperança.
É
só o seu rosto que a Câmara mostra.
Da
esperança passa para a decepção e para o desespero.
Levanta-se
fora de si, em direcção à porta e é barrada pelo cunhado que entretanto também
viera para o quarto. Procura refúgio nele, mas este estranhamento não retribui
o abraço e interpela-a: “Olha!”.
Só
então a Câmara se centra na cama. O rosto de David permanece impassível.
A
Câmara desce pelos seus braços e foca-se na mão esquerda. David ergueu dois
dedos e não se trata de um movimento reflexo, mas intencional.
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