domingo, 24 de julho de 2016

iii - 1/10 Quando chegaste

Quando chegaste não me apercebi de imediato.
Olhei o meu reflexo no espelho numa interrogação muda.
Vi os fios de prata no cabelo e as teias de aranha que cercam os meus olhos e boca.
Quando foi que me tornei outra?
Mantive-me ocupada enquanto adiava sonhos.
Convenci-me que tinha tempo.
Até descer em mim a noite.
Não vou casar-me com o amor da minha vida e ser mãe dos nossos filhos.
Não existem eles, nem existe nós.
Não poderei mais reinventar-me.
E não haverá amanhã.

Porque hoje chegou a morte.

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