A
noiva vestia de preto.
Apenas
esse podia ser o título para o seu livro. Até que descobriu que já tinha sido
usado, inclusive num filme e apesar da história do filme ser bem diferente do
que tinha pensado escrever, o ocorrido desmoralizou-o e desistiu de escrever o
livro.
A
sua vida estava recheada de situações assim.
As
grandes ideias que tinha, revelavam-se sempre não originais.
Até
o seu nome: Antenor.
A
avó criou-o até aos seis anos e era assim que o tratava. Acreditou ser Antenor
até ir para a escola com essa idade. Aos seis anos descobriu que estava
registado como António porque no registo recusaram o nome escolhido. A avó
continuou a chamá-lo Antenor. Era António para todos os outros.
Aos
vinte anos apaixonou-se loucamente por uma mulher, a Yara Lis, que não parecia
corresponder aos seus sentimentos.
A
Yara Lis aceitou, depois de muitos convites, ir jantar com ele.
A
dada altura, estavam já na sobremesa, pudim de laranja, ele, e salada de
frutas, ela, confessou-lhe que não era esse o seu nome, chamava-se simplesmente
Ana, nada original, afinal.
Acabaram
por casar e ele continuou a chamar-lhe Yara Lis, excepto quando discutiam.
Acordaram
em chamar às filhas, Açucena e Amarílis, nomes aceites no registo.
As
filhas hoje adultas e o seu maior orgulho, a começar pelos seus nomes, tão
raros e belos quanto elas, amigaram-se e foram morar para outras casas,
aguardando que um destes dias lhe arranjem um neto.
Alimentou
o sonho de ser original, até começar a perceber que já o era, para a Yara Lis,
para as filhas e amigos, inconfundível e especial, mesmo sem ter escrito um
livro e quer lhe chamassem Antenor ou António, e com essa ideia a acalentá-lo,
apagou a luz e foi deitar-se ao lado da Yara Lis.
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