domingo, 24 de julho de 2016

iii - 5/10 - O Destino

O destino, isso a que damos o dono de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta.
Uma mulher entra num bar.
Vai lá apenas para tomar uma bebida no final do dia na capital. Jantou com uma amiga e foram ao teatro. Tiveram de se despedir cedo porque a amiga tinha a filha com um drama de adolescente à espera. Sem filhos, invejou-lhe sem maldade, ser assim precisa. Não quis ir logo para o quarto. Sentou-se ao balcão.
Foi então que ele veio falar consigo. Estava bem vestido, mas parecia cansado e havia uma fragilidade nos seus olhos que a levaram a responder-lhe. Foi fácil conversarem. Parecia que se conheciam desde sempre. Mais do que um cliché induzido pela bebida e solidão, acreditou que tal se devia às afinidades que descobriam um no outro, o mesmo sentido de humor, a mesma visão da vida. Tomou a iniciativa de o convidar para o seu quarto e sem a expectativa de que fosse mais do que uma noite. Também na intimidade encontrou nele afinidades. Adormeceram abraçados.
No dia seguinte, ele despertou de madrugada e saiu a correr. Ela teve tempo para pensar que nem sabiam o nome um do outro e tinha pena, mas não se voltariam a ver.
Apesar disso, nos meses seguintes quando vinha à cidade, ficava no mesmo hotel.
Não voltou a encontrá-lo.
Até que um belo dia, em que tinha o cabelo por lavar, mas felizmente estava com o seu vestido amarelo da sorte que lhe ficava muito bem, ouviu alguém correr atrás de si, na rua, com um "ei, pára” que lhe era dirigido”.
Virou-se e era ele, vermelho e afogueado pela corrida.
“Eu, João, tu?” Perguntou-lhe, mal recuperou o folego, imitando o Tarzan.

“Ana”. Respondeu-lhe e sorriram um para o outro.

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