-
Estás há muito tempo à espera?
Não
estava. Gostava de esperar pela irmã mais velha. Subia a rua que a levava do
ciclo até à escola preparatória para depois ter companhia no caminho até casa.
Enquanto ali estava, mergulhava nos seus pensamentos e pelo canto do olho ia observando
os alunos mais adultos daquela escola. Um deles era o Jonas, pouco mais velho
que ela. Conheceram-se quando ela foi para o 1º ano do ciclo, estava ele no 2º
ano, na aula conjunta de ginástica. Os rapazes andavam a correr em aquecimento,
ela exagerara uma gripe para ficar a enregelar num canto. Já meio arrependida
da sua mentira, tropeçara nos seus próprios pés e o Jonas que passava por ela,
agarrou-a e não a deixou cair. Desde então, observava-o de longe, meio
agradecida, meio envergonhada por não ter sabido na altura dizer-lhe obrigada.
Ficou com pena quando passou o ano e ele mudou de escola.
- Não.
Retorquiu-lhe,
sem o olhar, deixando que o cabelo lhe caísse para a frente e meio lhe tapasse
a cara.
-
E agora, quem é te agarra quando finges cair? Brincou ele.
Lembrava-se
dela. Que horror e ao mesmo tempo, que bom, porque afinal não era tão invisível
como às vezes se sentia e sobretudo porque não o era para ele.
Afastou
o cabelo da cara para o encarar: “podias
ser tu”.
Olharam-se
os dois e ele reparou que ela tinha crescido, estava quase da sua altura, ainda
magrinha e com uma floresta de cabelo. Naquele ano reconhecera-a e observara-a
de longe, primeiro a interrogar-se sobre o que viria ali fazer, depois notara
que vinha encontrar-se com a irmã e saíam as duas. Gostou que não viesse
encontrar-se com um namorado.
-
Podia ser eu. Respondeu-lhe.
E
sorriram um para o outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário