Era
uma miúda, com cinco anos a última vez que o viu. A ele e à sua mãe.
Cresceu
na casa dos avós com duas fotografias dela. A do casamento, de onde o avô
rasgou a figura do noivo e a da 4ª classe. Na primeira, muito pequena para lhe
perceber as feições, nem sequer percebia se estava feliz. Na segunda, uma mãe
criança que cedo se tornou mais nova do que ela.
Lembra-se
das discussões, que a deixavam assustada. E de um dia de sol em que ele a levou
com ele para o campo, só os dois. Mostrou-lhe um terreno com água, apanhou e
deu-lhe a comer uvas, as mais doces que alguma vez provou.
Na
noite em que tudo sucedeu, ela estava a dormir e felizmente não acordou. Os
avós vieram buscá-la de manhã e levaram-na para a casa deles. Não foi ao funeral.
Mais tarde, foi até à campa, em visitas que diminuíram até à anual em Novembro.
Contaram‑lhe do julgamento e da condenação. Nunca foi vê-lo à prisão. Quando ele
saiu, emigrou.
Agora
passados vinte anos regressou e quer vê-la.
Está
velho e doente. E ela sem saber o que fazer, pediu conselho ao marido, às
primas e ao Padre. Decidiu que sim. Combinou que se encontrassem na casa onde
tinham morado, somente os dois.
Chegou
primeiro. Abriu as janelas para espantar o frio húmido que se apossara do
espaço.
Sentou-se
à mesa onde jantavam os três, na cozinha onde a mãe cozinhava.
Pouco
depois ouviu-o chegar anunciado pelos passos pesados e meio arrastados. Menos
alto do que recordava, talvez da sua altura. Sentou-se na outra ponta da mesa.
Não tinha ainda sessenta anos, mas os seus, eram os olhos mais velhos que
alguma vez vira.
Trazia
algo para ela.
O
seu pai trouxe-lhe uvas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário