Porto, 18 de Maio de 2016
Meu neto, se estás a ler esta carta
é porque já morri.
Afinal não consegui chegar aos cem
anos.
Hoje é o dia do teu vigésimo aniversário.
É difícil imaginar-te conhecendo-te
apenas recém-nascido.
Fiz a tua mãe prometer que te entregaria
esta carta e que não a iria ler antes, e creio que cumprirá esta promessa pelo
seu carácter, mas sobretudo por desinteresse.
Ela não faz a menor ideia do que
tenho para contar-te.
Deveria ser o teu pai a ter esta
conversa contigo, mas ele já não está entre nós (nunca acreditei nessa história
de ter fugido para o Brasil com uma hawaiana por não aguentar o peso a e
responsabilidade das tradições da nossa família).
Nenhum pai deveria ter de passar
por isto, ver o seu filho desparecer no mar, ainda mais num dia de verão azul,
em que da praia observávamos inúmeros banhistas e pequenos iates, e nem um, nem
um, se apercebeu da tragédia, na sua cega indiferença.
Tive esta conversa com ele, assim
como a teve comigo o meu pai e com ele, o meu avô. Durante gerações, tem
passado de pai para filho.
Vou revelar-te o grande segredo da
nossa família, que me cabe a mim transmitir‑te para que se possa manter a
tradição, e assim possas conhecer a verdade e passá-la, por tua vez, ao teu
filho.
Lembra-te que por mais terrível que
possa parecer, há um lado grandioso. O nome Pires de Púcara irá prevalecer.
Não sei bem como começar. Seria mais fácil se
estivesses aqui.
Não tenho andado bem. Dói-me o
braço com que escrevo, uma dor fina e estranha que quase me impede de escrever.
Pesa-me o ar, talvez pela
antecipação da revelação.
Devo passar ao mais importante.
O segredo é q
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