“…Durante
anos - e anos - bebemos goles de bom senso - pequenas doses - durante todo o
enorme dia - goles que engolimos sem pensar - não paramos - e - o tempo corre -
os anos passam - e acabamos por comprar garrafas de vidro fosco - imensas -
inundadas num líquido incolor - ao qual chamamos bom senso - e nas pequenas
doses de bom senso que nos obrigamos a tomar - vamos construindo um senso comum
- que nos tranquiliza…”
Houve um tempo em que acreditou que poderia
mudar o mundo. Tinha observado o que se passava em seu redor e decidido o que
queria e o que não queria para a sua vida. Apaixonou-se, sonhou ter filhos, uma
família e casou. Começou então um período de turbulência. Ela parecia sempre insatisfeita.
Não conseguiam conversar, ela não se abria, acusava-o de não a compreender,
embora ele tentasse. Quando pensava que
tinham falhado, ela anunciou-lhe que estava grávida. Sentiu de novo esperança,
mas ela parecia zangada. O nascimento do seu filho, não os juntou. Ela
continuou sempre a trabalhar, teve um esgotamento e deixou-os. Mais do que a
si, sentiu o abandono do filho. Esforçou-se e conseguiu que voltassem os
hábitos tranquilizadores.
Deixou que o bom senso o guiasse. De manhã,
chegava a ama, Maria. Ele saía para o trabalho. Quando regressava ao reencontro
do filho, Diogo, também encontrava a Maria. Conversavam. Com ela era fácil
falar, via o Diogo feliz, sentia-se em família.
Até que um dia de novo irrompeu na sua vida o
inesperado. O Diogo adoeceu, com febres altas. Viu o filho pequenino com
convulsões. Ele e a Maria levaram-no para a banheira, depois para o Hospital.
Viu nela uma preocupação e um amor iguais aos seus. Quando o Diogo melhorou e
puderam trazê-lo para casa, o menino ao colo da Maria, pensou que quem os
visse, veria neles um casal com um filho.
Ocupada nos seus afazeres não o notou logo.
Foi reparando que o Diogo estava quieto de mais. Ao invés de brincar com os
seus carrinhos e palrar com ela para lhe chamar a atenção, estava prostrado e
caladinho. Quando lhe sentiu a testa estava demasiado quente Felizmente nessa
altura chegou o Luís. Foram medir-lhe a temperatura que continuava a subir. Ele
ligou para o médico, ela para a sua mãe, para que fosse buscar a Ana à escola e
lhe tomasse conta dos filhos. Levaram o menino para a banheira para tentar em
vão que a temperatura descesse e o Luís decidiu que iam era já para o Hospital.
Seguiram para lá os três. Quando chegaram, puseram lá o menino a soro,
tiraram-lhe sangue e deram-lhe um antibiótico. Nenhum dos dois dormiu, velaram
pelo menino sentados na cama e numa cadeira. Rezou para si pelo seu filho do
coração. Quando o Diogo melhorou sentiu-se agraciada. Regressaram a casa os
três.
Deitaram o menino na sua caminha. Lá fora,
começava o dia. Os dois, muito perto um do outro, viram o menino adormecer.
Depois ele passou um braço à volta dos seus ombros, ela encostou-se a ele e
beijaram-se. Souberam os dois que era certo e estavam juntos, nas pequenas e
nas grandes coisas, eram uma família.
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