domingo, 24 de julho de 2016

iii - 8/10 Encontro no supermercado


Não era a primeira vez, nem seria a última com certeza, que acreditava ter visto alguém que conhecia, para descobrir depois um desconhecido, pouco ou nada parecido, mas era capaz de jurar que tinha visto o Luís, o seu primeiro namorado, no corredor mais ao fundo
Não tinham tido nada sério, e eram tão jovens que se tinham simplesmente afastado quando o verão terminou.
Não foi capaz de sair com aquela dúvida, mesmo já tendo tudo o que queria comprar, e quis confirmar se era ele, encetando quase uma corrida, com o carrinho das compras, apenas travada pelas pessoas que enchiam o supermercado, naquela noite de sexta-feira.
Não queria desistir, apesar de não conseguir encontrá-lo e até pensou se ele teria passado por ela e ido para a zona das caixas, mas é então que o vê, de costas para onde ela estava, de frente para o balcão da charcutaria.
Não hesitou e tocou-lhe no ombro para lhe chamar a atenção, no meio da confusão de pedidos: “Luís”.
Não era ele, pensou primeiro, quando ele se virou, mas depois apercebeu-se que era, sim, apesar de mais velho dez anos, que nele pareciam vinte.
“Não podes ser tu, Ana?” disse-lhe ele enquanto a abraçava.
Não conseguiu evitar pensar se também notaria nela como os anos tinham passado, esperando que pelo menos não lhe parecesse, que em dez anos tinha envelhecido vinte.
Não se largaram o resto da noite, jantaram e ficaram a conversar quase até à uma da manhã e só se despediram depois de trocarem contactos e com a promessa de se voltarem a ver em breve.
Não iam voltar a estar juntos, mas continuavam a guardar com carinho a recordação de um tempo em que tinham sido felizes, um com o outro, e com o mundo.


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