Não
era a primeira vez, nem seria a última com certeza, que acreditava ter visto
alguém que conhecia, para descobrir depois um desconhecido, pouco ou nada
parecido, mas era capaz de jurar que tinha visto o Luís, o seu primeiro
namorado, no corredor mais ao fundo
Não
tinham tido nada sério, e eram tão jovens que se tinham simplesmente afastado
quando o verão terminou.
Não
foi capaz de sair com aquela dúvida, mesmo já tendo tudo o que queria comprar, e
quis confirmar se era ele, encetando quase uma corrida, com o carrinho das
compras, apenas travada pelas pessoas que enchiam o supermercado, naquela noite
de sexta-feira.
Não
queria desistir, apesar de não conseguir encontrá-lo e até pensou se ele teria
passado por ela e ido para a zona das caixas, mas é então que o vê, de costas
para onde ela estava, de frente para o balcão da charcutaria.
Não
hesitou e tocou-lhe no ombro para lhe chamar a atenção, no meio da confusão de
pedidos: “Luís”.
Não
era ele, pensou primeiro, quando ele se virou, mas depois apercebeu-se que era,
sim, apesar de mais velho dez anos, que nele pareciam vinte.
“Não
podes ser tu, Ana?” disse-lhe ele enquanto a abraçava.
Não
conseguiu evitar pensar se também notaria nela como os anos tinham passado,
esperando que pelo menos não lhe parecesse, que em dez anos tinha envelhecido
vinte.
Não
se largaram o resto da noite, jantaram e ficaram a conversar quase até à uma da
manhã e só se despediram depois de trocarem contactos e com a promessa de se
voltarem a ver em breve.
Não
iam voltar a estar juntos, mas continuavam a guardar com carinho a recordação
de um tempo em que tinham sido felizes, um com o outro, e com o mundo.
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