Primeiro uma dor no pé direito, que a levou a tentar compensar com a
perna contrária que lhe começou a doer na anca esquerda, a seguir também
a anca direita. Cada passo lhe doía. Fez uma pequena pausa para olhar
uma montra. Melhorou só um bocadinho e à medida que mais andava, a dor
voltava, intensa, em cada passo. Antes costumava andar depressa, agora a
dor não a deixava. Não se sentia cansada. Também por isso aquilo a
aborrecia. Envelhecia, mas se não fosse aquela dor, imaginava que não o
sentiria, não ainda. O reflexo que lhe transmitira a montra não era de
uma velha e esforçava-se por caminhar direita, sem mostrar sofrimento.
Não tinha era paciência. Irritava-se com os mais jovens meio alheados
que paravam ou não lhe cediam passagem. No seu tempo era diferente. Não,
ela é que era diferente. Seria ela a alheada do esforço de cada passo,
sem noção que para a velha à sua frente um desvio doía.
Nenhum comentário:
Postar um comentário