domingo, 24 de julho de 2016

Um passo mais

Primeiro uma dor no pé direito, que a levou a tentar compensar com a perna contrária que lhe começou a doer na anca esquerda, a seguir também a anca direita. Cada passo lhe doía. Fez uma pequena pausa para olhar uma montra. Melhorou só um bocadinho e à medida que mais andava, a dor voltava, intensa, em cada passo. Antes costumava andar depressa, agora a dor não a deixava. Não se sentia cansada. Também por isso aquilo a aborrecia. Envelhecia, mas se não fosse aquela dor, imaginava que não o sentiria, não ainda. O reflexo que lhe transmitira a montra não era de uma velha e esforçava-se por caminhar direita, sem mostrar sofrimento. Não tinha era paciência. Irritava-se com os mais jovens meio alheados que paravam ou não lhe cediam passagem. No seu tempo era diferente. Não, ela é que era diferente. Seria ela a alheada do esforço de cada passo, sem noção que para a velha à sua frente um desvio doía.

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