Esperam os dois no corredor. Cada um com o seu advogado.
Não se olham, nem falam um com ou outro.
Ela pensa, pelo menos ele não
trouxe para aqui a outra. Ele põe-se a imaginar se ela já terá arranjado alguém
e sem saber porquê essa ideia aborrece-o.
Os seus advogados são jovens. Ele
tem uma advogada, morena e magra, com um aspecto seguro e competente. Ela um
advogado só um pouco mais velho, com um ar simpático e apaziguador. Ambos
terminaram há pouco o estágio, embora não se conhecessem por serem de
faculdades e cidades diferentes. Tinha sido o advogado dela a sugerir que
conversassem antes. Ela respondera que nem pensar, que ele tinha de pagar pelo
que fizera. Mesmo assim e por sua iniciativa o seu advogado combinou um
encontro com a colega. No dia marcado, apenas a colega. O cliente também se
recusara a vir. Já conhecia a mulher, dissera, com ela não havia acordos. Os
dois advogados tinham ido tomar um café, na pastelaria ao lado do escritório.
"Que chatice, terem faltado os clientes. Com um pouco de boa vontade
aquilo resolvia-se bem", comentara ele. Ela perguntara-lhe em que acordo
estava a pensar. E ele que não pensara em nenhum, encolhera os ombros. Dali
tinham passado para outros temas. O curso, as dificuldades em estabelecerem-se.
Tinham marcado um jantar e depois outro.
Entretanto, a funcionária veio
chamá-los. Conduziu-os ao gabinete do Sr. Juiz. Lá dentro, este de pé, aguarda
que entrem. Cumprimentou os advogados e depois aos dois. Fala-lhes da conversão
para o mútuo. "Podem ficar já hoje divorciados" anuncia-lhes para os
convencer. "E sem ser preciso passarem por um julgamento público, no qual
tenham de debater a vossa intimidade". Ele acha boa ideia. Ela não. Não
pensa na sua intimidade, pensa só em expôr a dele. Apontá-lo como o marido
adúltero, que não cumpriu os votos sagrados. Não há acordo. O processo deve
pois prosseguir. O advogado pensa que vão haver mais jantares.
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