Estou atrasado, tão atrasado, mais de meia hora.
Tive de largar o táxi porque os carros não andam. Que grande merda!
Ela não vai desculpar-me desta vez. Vai dizer que não a faço sentir
importante.
Mas não havia maneira de interromper a reunião. O cliente estava lá, a
equipa dependia dele e foi brilhante na apresentação. Viu-o nos olhares de
todos e na mudança de atitude do primeiro que de crítico, passou a colocar-lhe
questões e a ouvir com respeito as suas sugestões.
Quando se despediram e olhou para as horas é que se apercebeu que
dificilmente chegaria a tempo. Nem pensou em levar o seu carro. Correu para a
rua, apanhou um táxi e disse-lhe para onde seguir. Quando já estavam perto e só
via o trânsito parado, pagou o serviço e saiu. O restaurante ficava ao virar da
esquina. Passou a passadeira a correr e viu os carros parados. Mesmo quando o
semáforo mudava, pouco conseguiam avançar.
Chegou à porta, ajeitou a roupa enquanto recuperava o fôlego e
normalizava a respiração. Pena não ter passado por uma florista, mas também não
teria tempo para comprar-lhes flores.
Entrou.
Olhou em direcção à mesa que sempre escolhiam. E toda a esperança que
ainda trazia consigo se apagou. Ela não estava lá.
Ia cumprir a sua ameaça. Seria a última vez que a deixava à espera num
aniversário. Teriam sido assim tantas vezes? Como podia ser determinante quando
em tudo o resto se entendiam. Desde que se tinham conhecido que cada dia sentia
que gostava mais dela. Sentia que tinha finalmente encontrado a pessoa certa, quando
antes nem acreditava que existia. Deveria lutar por uma nova oportunidade
quando se sentia tão derrotado?
Nesse momento, ouviu o seu nome. Virou-se. Era ela, estava a sorrir e
disse-lhe: “desculpa, com este trânsito, atrasei-me”.
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