Estava
à procura das chaves do carro na carteira quando o viu, um pedaço de papel
amarelado. Pegou nele e leu o que tinha escrito: “Quando abrires os olhos
verás”.
Devia
ser da Ermesinda. Tinha-a visto na confeitaria de onde acabara de sair.
Ultimamente cortava rente todas as conversas daquela intriguista e ela devia
tê-lo escrito para a incomodar, como se algo
na sua vida não fosse como devia ser.
Tudo certo como Deus manda.
O seu
marido, Raul, um santo, ficara em casa adoentado, mas insistira em que não
faltasse ao clube de leitura: “vai filhinha, sei como gostas de ir, eu fico
bem”.
Imaginou-o
em casa sozinho e de imediato decidiu. Ia era levar-lhe os bolos que tinha
comprado para o clube, fazia-lhe um chá, contava-lhe do bilhete, rir-se-iam, e
não teria mais importância.
Dito
e feito, já no carro, inverteu a direcção e foi para a casa.
Estacionou
perto da entrada e não pôde deixar de reparar que mais à frente, estava o carro
vermelho da Luísa da farmácia, um pouco escondido sob a sombra do velho cedro.
Era uma mulher vistosa na qual os homens reparavam, sobretudo depois de se ter
separado.
Saiu
do carro e empurrou o portão. Seria capaz
de jurar que o tinha deixado fechado no trinco, mas estava entreaberto.
Abriu
a porta de casa, entrou no hall a meia-luz, e ouviu o som de uma respiração
arfante.
Nessa
altura, pareceu-lhe que o coração lhe parava no peito.
Ai se
o papel era verdadeiro e tinha andado de olhos fechados!
O
barulho parecia vir do quarto e foi para lá que se dirigiu.
Viu
primeiro a Luísa, com uma bata curta e atrás dela, sentado na cama o marido, em
inalações para a constipação.
Voltou
a respirar. O seu Raul era um santo.
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