Estava com pressa para chegar a casa e por isso optou por não pernoitar
no hotel da estação de serviço. Limitou-se a atestar o depósito e a
ingerir mais um café com uma sandes mista. Entretanto lá fora já
escurecera, apesar de ainda não ser muito tarde, sete horas ou mais
exactamente dezanove. Tinham finalmente entrado na época do ano em que
cresciam os dias. Voltou para o carro, saiu do estacionamento e
regressou à estrada. Além de ter ficado escuro e da chuva morronhenta
que se instalara desde a manhã, também descera um ligeiro nevoeiro, mais
perceptível nas luzes dos faróis dos poucos carros com que se cruzou.
Desligou o rádio para concentrar-se melhor na condução. Decorreu uma
meia hora, sem que passasse por qualquer outro veículo ou a luz de uma
casa distante assinalasse a a presença de outro ser vivo, e foi então
que passou pela primeira figura. Estava na berma, imóvel, vertical e
escura. Assustou-o porque apenas a viu em cima do momento. Não
interferia com o seu trajecto. Registou o susto. Lembrava-se de ter
pensado: "que estranho". Sem saber se era homem ou mulher, interrogou-se
sobre o que faria naquele descampado. Não se movera, não fizera
qualquer gesto. Não ia a andar para algum sítio, não parecia esperar
para atravessar a estrada ou pela boleia de um familiar ou de um
desconhecido. Mais meia hora passada, mas desta vez com alguma
antecedência, vislumbrou novo vulto meio encoberto pelo nevoeiro. Apesar
de se esforçar para o ver melhor e ter até abrandado na velocidade, não
conseguiu sequer descobrir o sexo da pessoa imóvel e escura na beira da
estrada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário