Foi para a cama com
uma dor que lhe subia pelo braço.
Acordou a sentir-se
estranho e saiu sem tomar o pequeno-almoço.
Mal tinha saído quando
encontrou o seu amigo Luís. Não o via há anos e até tinha pensado que tinha
morrido. Ele veio ter consigo, à vontade, como se estivessem estado juntos no
dia anterior, e anunciou-lhe que estava atrasado para o leilão. Apesar de não
saber do que falava, seguiu-o por ruas estreitas, até um velho prédio. Subiram
as escadas de degraus de madeira inclinados e cobertos por uma tapeçaria
antiga, vermelho desbotado. Entraram num salão interior, onde estavam sentados dois
homens e três mulheres de idade, vestidos de escuro. O Luís disse-lhe para se
sentar.
Por outra porta
lateral entrou o leiloeiro. Era alto e magro, e deu de imediato início aos
lances.
Inadvertidamente levou
a mão ao rosto para abafar um espirro e apercebeu-se que sem querer tinha
licitado uma obra. Não sabia qual, mas sabia que não tinha como a pagar e quase
entrou em pânico.
Um homem ao seu lado
reparou e assumiu a licitação. Quis agradecer-lhe e ele pareceu-lhe familiar.
Lembrava-lhe o seu pai, ou melhor, a si mesmo, só que mais velho.
O seu eu de mais idade
virou-se então para ele e disse‑lhe: “É a tua alma que está em jogo e pela
forma como viveres a tua vida é que poderás ou não ter o valor para não a
perderes.”
Acordou em sobressalto
no seu quarto, ainda com o aperto no peito, rodeado por paramédicos chamados
pela mulher.
Durante algum tempo
pensou se teria tido alguma experiência de pós-morte, se seria um aviso. Teve
cuidado com a saúde e com a forma como agia com os outros.
Depois voltou a agir
como antes e até a preocupação se foi.
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