Até queria tentar, mas não
tinha tempo ou talvez lhe faltasse a coragem.
Resolveu escrever um
texto, uma lista de Prós e Contra,
mas ignorar o Prós.
Começou logo por:
Não tens tempo (até poderia ter, deitava-se por exemplo um
pouco mais tarde ou acordava mais cedo).
Não tens imaginação (será que não? Lembrou-se do lema ensinado
pela mãe: “se os outros conseguem, tu também consegues”).
Não sabes construir frases
como quem esculpe na pedra, vida,
ou escolher palavras que
rolem sem tropeçar nas ideias,
(será mesmo
preciso escrever assim?)
Não serás original (talvez conseguisse sê-lo, sem grandes
exigências; lembrou-se da anedota sobre a tese rejeitada porque o que tinha
sido escrito pelo seu subscritor, não tinha qualidade, e o que tinha de qualidade
não tinha sido escrito por quem a subscrevia)
Ficarás em último (que vergonha, mas poderia recorrer a um
pseudónimo e ninguém saberia ou desculpar-se com a falta de tempo – “não tive
tempo para me dedicar e ser melhor, escrever melhor” – voltava à falta de
tempo).
Campeonatos de escrita
criativa não são para ti, são para outros que têm tempo e sabem escrever (talvez pudesse só participar, sem aspirar a
ser seleccionada e assim obter uma avaliação objectiva).
E no final da lista, não ficou convencida.
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